quarta-feira, 20 de abril de 2016

Pio XII : "Os teólogos e filósofos católicos, que têm o grave encargo de defender e imprimir nas almas dos homens as verdades divinas e humanas.

Pio XII :
"Os teólogos e filósofos católicos, que têm o grave encargo de defender e imprimir nas almas dos homens as verdades divinas e humanas, não devem ignorar nem desatender essas opiniões que, mais ou menos, se apartam do reto caminho. Pelo contrário, é necessário que as conheçam bem; pois não se podem curar as enfermidades antes de serem bem conhecidas; ademais, nas mesmas falsas afirmações se oculta por vezes um pouco de verdade; e, por fim, essas opiniões falsas incitam a mente a investigar e ponderar com maior diligência algumas verdades filosóficas ou teológicas." (Pio XII, Humani Generis, 9)

Mas há aqueles que renegam a fé em defesa de inovações, não se importam com a Sagrada Tradição, tampouco com as definições. Estes, sim, merecem repreensão, são os chamados progressistas ou neomodernistas. Isso é bem contrário ao Concílio Vaticano II (a partir de agora CVII) como pude provar no artigo citado. O Papa João XXIII fez bem as distinções quando falava das intenções do Concílio:

“O nosso dever não é somente guardar este tesouro precioso, como se nos preocupássemos unicamente pela antiguidade, mas dedicar-nos com diligente vontade e sem temor a esta obra, que a nossa época exige... É necessário que esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e apresentada de modo que corresponda às exigências do nosso tempo. De facto, uma coisa é o depósito da fé, isto é, as verdades contidas na nossa veneranda doutrina, e outra coisa é o modo com o qual elas são enunciadas, conservando nelas, porém, o mesmo sentido e o mesmo resultado" (S. Oec. Conc. Vat. II Constitutiones Decreta Declarationes, 1974, pp. 863-865).

Ora, qual conhecedor da doutrina católica poderia negar uma só vírgula do dito?

O mesmo foi explanado pelo grande São Vicente de Lérins:

“Talvez alguém diga: então nenhum progresso da religião é possível na Igreja de Cristo? Certamente que deve haver progresso, e grandíssimo! Quem poderá sertão hostil aos homens e tão contrário a Deus que tentaria impedi-lo? Mas a condição de que se trate verdadeiramente de progresso pela fé, não de modificação. É característica do progresso de todas as maneiras possíveis à inteligência, o conhecimento, a sabedoria, tanto da coletividade como do indivíduo, de toda a Igreja, segundo as idades e os séculos; com tal de que isso suceda exatamente segundo sua natureza peculiar, no mesmo dogma, no mesmo sentido, segundo uma mesma interpretação.” (Communitorium, 23)

Por exemplo, tais “inovações” quanto aos ritos (uma das intenções reformáveis do CV II) foram deixadas claras pelo Concílio de Trento quando diz que a Igreja tem sempre o poder de “determinar e mudar aquelas coisas que julgar conveniente à utilidade dos que os recebem ou à veneração dos mesmos sacramentos, segundo a variedade das coisas, tempos e lugares” (Concílio de Trento, sessão XXI, cap. 2, ver também Papa Pio XII na Encíclica Mediator Dei, n. 44 e 45.).



O Progressismo



O progressismo como corrente teológica traz muito dos pressupostos do modernismo, mas não se vê necessariamente vinculado a ele, nem é tão rebuscado quanto ele. Ele mescla vários tipos de posições, daí ser tão diversificado, existindo entre eles marxistas e liberais, uns que odeiam a Igreja e outros que dizem amá-la. O que os une é progresso, a mutabilidade da doutrina. Antes do Concílio do Vaticano II o modernismo estava como um cadáver, assim como hoje falece a teologia da libertação.

As condenações do Papa Pio X travaram o avanço modernista. Os papas posteriores puderam respirar melhor depois disso. O Papa Pio XII pôde incentivar a pesquisa teológica, fazer grandes mudanças litúrgicas, coisas que não seriam cogitadas nos tempos do Papa Pio X, pois os modernistas poderiam entender certa aprovação. Poder-se-ia imaginar o Papa Pio XI dizendo que “o homem religioso possui um direito inalienável de professar sua fé e exercê-la segundo os ditames. Os pais, conscientes e conhecedores de sua missão educadora, têm antes que mais nada, direito essencial à educação dos filhos, que Deus os deu, segundo o espírito da sua fé, e de acordo com suas prescrições. Leis que impedem ou dificultam a profissão e prática dessa fé se acham em contradição com o direito natural” (Mit Brennender Sorge, AAS 29, 1937, p. 160)?

Mais, quem esperaria Pio XI falar em “liberdade das consciências” sem fazer com isso alguma distinção? Ainda, quem diria que Pio XI em relação à condenação da laicidade por Pio IX deixaria implícito que existe uma laicidade válida (Maximam gravissimamque, A.A.S. 16, 1924, p. 10)? E depois, diria o Papa Pio XII que existe não só uma laicidade legítima e sadia, mas que isto é doutrina católica (Discurso, 23 de Março de 1958)? É claro que poderiam ter efeitos ruins esses discursos no tempo em que o modernismo estava no seu auge.

Acontece, que depois do Concílio Vaticano II os modernistas reviveram com novos aspectos monstruosos. Não que antes não se manifestasse de várias formas. O próprio Papa Paulo VI falava no tempo do CVII que o modernismo “ainda se manifesta em várias tentativas de expressão heterogêneas à realidade autêntica do catolicismo”. (Ecclesiam Suam, 10) Mas ao que tudo indica depois do CVII, com as várias interpretações errôneas dadas aos seus textos, à influência modernista pôde voltar com muito mais vigor, e assim deixar mais escancarado seu fruto que é o progressismo. Em 1970 Joseph Ratzinger, atual Papa, disse:

“Não é que a crise modernista tivesse vindo plenamente à luz: aconteceu que foi interrompida pelas medidas tomadas por Pio X e pela mudança de situação após a primeira Guerra Mundial. A Crise atual é apenas uma continuação, adiada no tempo, daquilo que já tinha começado antes.”
(Glaube und Zukunft, Kosel Verlag, 1970, trad. Cast. Fe y futuro, Sígueme, Salamanca, 1972, págs. 69 e 77.)
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